José Heitor

José Heitor da Silva é um dos mais importantes e conhecidos escultores da zona da Mata Mineira, que em 2011 completou 50 anos de atividade artística. Ex-ferroviário, o mineiro de Além Paraíba, que além de escultor é poeta e restaurador, foi um dos primeiros artistas negros que tiveram suas obras integradas ao acervo do Museu de Arte Negra - MAN, criado por Abdias Nascimento no Rio de Janeiro em 1966. O talento de escultor foi descoberto em uma noite chuvosa quando ainda garoto, sozinho em sua casa, começou a fazer esculturas de crianças para lhe fazerem companhia e aplacarem o medo. Depois do ocorrido começou a se divertir esculpindo os amigos reais durante as brincadeiras, até que incentivado por uma professora, passou a aperfeiçoar os traços utilizando madeira. José Heitor desde então, constrói e reforma imagens sacras e imagens de personagens da cidade em tamanho natural como a famosa “Carijó”, esculpida por ocasião do centenário da cidade, em 1983.

José Heitor. FOTO: autoria desconhecida.

Ainda muito jovem teve que “atravessar o Rio Paraíba” para ter seu trabalho reconhecido e foi em um posto de gasolina que viu sua arte ganhar o país através da BR-116. Contou que levava suas esculturas para expor no posto e lá ficava esperando que surgisse um apreciador. Rosário Fusco, poeta cataguasense e um dos criadores da Revista Verde, foi um dos que reconheceram o valor de sua arte ajudando a divulgá-la. Quando fala da comercialização de suas esculturas, José Heitor é enfático: “Minhas esculturas são como filhos tem valor, mas não tem preço. Então, quando exponho com o intuito de comercializá-las peço aos donos das galerias que deem os preços. Não posso vender meus filhos”.


José Heitor. Cristo negro, madeira. Reprodução fotográfica Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros, Rio de Janeiro, RJ.

Certa vez Abdias Nascimento escreveu sobre José Heitor: "...ele representa o autodidata e mágico criador; mais parece um artista transviado em Além Paraíba (Minas). Cada peça que esculpe tem o compromisso de ato litúrgico e de função comunitária. E geralmente realizadas em proporções monumentais, sobre um caminhão, no carnaval, suas esculturas passeiam processionalmente pelas ruas da cidadezinha, como parte integrante das escolas de samba. E no desfile, ao suor do artista, se somam à peça o pó, a luz, o calor, o cheiro e a alegria do seu grupo. Os "sonhos" de José Heitor se apóiam em rigoroso sentido de volume e mantêm o ritmo cruzado polimetria e polirritmia de que nos falam os estudiosos da arte africana. José Heitor trabalha o cedro, o vinhático e outras madeiras que seus amigos, sua tribo, lhe conseguem. Nunca visitou a África, nunca freqüentou escola ou meio artístico. Ele confirma outra frase de Mário Barata: '...de todo o continente americano só em nosso país se conservaram, de maneira evidente, as técnicas e concepções plásticas africanas."

Obras de José Heitor em exposição no Museu de Arte Negra - MAN no Rio de Janeiro

José Heitor tem obras hoje pertencentes aos acervos do Museu do Folclore - no Rio, do Museu de História e Ciências Naturais - de Além Paraíba, e de colecionadores particulares. Já participou de mostras e exposições em localidades da região, como Cataguases, Angustura, Volta Grande, Estrela Dalva, Pirapetinga e Além Paraíba - algumas das quais as mantêm expostas em logradouros públicos ou em templos religiosos.

José Heitor, Erga-te, madeira. Reprodução fotográfica www.acasa.org.

José Heitor, Carijó, madeira. Acervo do artista

José Heitor, O pescador, madeira. Acervo do artista.

José Heitor, Proteção, madeira. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

José Heitor, Pau de sebo, madeira. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

José Heitor, Drama dos mendigos negros, madeira. Reprodução fotográfica autoria desconhecida

José Heitor, Caminhante, madeira. Reprodução fotográfica autoria desconhecida


No video abaixo, o próprio José Heitor nos conta um pouco de sua trajetória.


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