Mestra Zefa

Josefa Alves Reis, a mestra Zefa, nasceu em Poço Verde, região fronteiriça entre os estados de Alagoas, Sergipe e Bahia em 1925. Quando seu irmão mais velho, em 1958, foi construir Brasília em busca de uma situação melhor para família, viu-se em completa miséria, pois o irmão nunca mais deu notícias e nem retornou ao lar, ela então, como milhares de nordestinos, migrou para Minas Gerais ao lado da cunhada Francisca, que também não tinha uma profissão definida, em busca de uma vida melhor. A nossa vida desde então foi de muita andança. Depois que meu pai morreu, meu irmão andou um bocado atrás de trabalho. Foi para Brasília e nunca mais voltou. Eu fiquei aqui pelas terras de Minas Gerais com minha cunhada. Até que um dia ouvi falar em Araçuaí, aqui pras bandas de Teófilo Otoni, onde o povo contava que pedra preciosa nascia no chão das ruas. Cheguei aqui, a coisa não era bem assim e aqui estou há 47 anos, conta. Zefa fez quase de tudo na vida, mas foi na madeira que ela começou a talhar sua história.

D. Zefa. Reprodução fotográfica "Dedo de gente"

A Zefa artesã não veio de repente, passou cerca de 10 anos de sua caminhada buscando sua verdadeira vocação que era a arte da escultura. Inicialmente trabalhava com uma mistura de barro, farinha de trigo e cinzas. Após três anos muito criativos, Zefa largou o barro por acreditar que estava prejudicando sua saúde. Esta nossa terra aqui começou a ser falada com os Franciscanos, o Projeto Rondon e outros movimentos desse topo. Um dia fiz uma figura de Frei Chico, que já tinha ido embora, de barro. E depois, continuei modelando no barro, mas adoeci e os estagiários disseram que eu tinha anemia e não poderia mais trabalhar com o barro. Eu fiquei triste. Eu adorava o barro, conta. Zefa escolheu então a madeira, esculpindo com traços firmes e originais suas obras mais conhecidas e reconhecidas. Na madeira se tornou mestra, conhecendo e sabendo como poucos explorar em suas peças as características naturais das madeiras da região, entre elas a imburana, o vinhático, a cabiúna, o cedro, a braúna preta, a aroeira e a jataípeba. O que a natureza do Vale fornecia, Zefa recriava em forma de arte. Além de escultora, Zefa é ainda contadora de caso e benzedeira.

D. Zefa esculpindo em sua casa em Araçuaí, MG. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Mestra Zefa, São Francisco, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Estação, São Paulo, SP.

Mestra Zefa, profetas, madeira. Reprodução fotográfica "Em nome do Autor", Proposta Editorial, São Paulo, SP, 2008.

D. Zefa em sua casa em Araçuaí, MG. FOTO: Lori Figueiró.

Zefa possui peças nas mãos de colecionadores em vários países, como França, Itália, Alemanha, Holanda, Suíça, Estados Unidos e, claro, no Brasil. Mesmo sendo uma das mais importantes e premiadas artistas do Vale do Jequitinhonha, Zefa sempre viveu de maneira simples, nunca se preocupou em acumular posses. Sempre que vendia uma peça, preferia comprar um bom pedaço de carne e festejar com familiares e amigos. Desde a morte de Francisca, Zefa quase não trabalha mais a madeira, mas ainda orienta seus discípulos e recebe bem os visitantes, dividindo suas histórias e sabedorias acumuladas ao longo da vida.

D. Zefa esculpindo em sua casa em Araçuaí, MG. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Obras de D. Zefa em sua casa em Araçuaí, MG. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Detalhe de uma das escultura de D. Zefa. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Mestra Zefa, São Francisco, madeira. Reprodução fotográfica "Em nome do autor", Proposta Editorial, São Paulo, SP, 2008.

Mestra Zefa, profetas, madeira. Reprodução fotográfica "Em nome do autor", Proposta Editorial, São Paulo, SP, 2008.

Mestra Zefa, espírito garimpeiro, madeira. Reprodução fotográfica "Em nome do autor", Proposta Editorial, São Paulo, SP, 2008.

D. Zefa entre as suas esculturas em sua casa em Araçuaí, MG. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

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