Willi de Carvalho

Welivander César de Carvalho, mais conhecido como Willi de Carvalho, é um dos mais importantes e inventivos artistas brasileiros. Ele nasceu em Montes Claros, norte de Minas Gerais, em 1963. Membro de uma família de poucos recursos, Willi cresceu em uma rua de Montes Claros onde passavam muitos viajantes da Bahia e de Minas Gerais. As imagens dessa época, guardadas na memória do artista, agora surgem em forma de pequenas esculturas e alegorias sobre temas urbanos e rurais, espaço de encontro da realidade e da fantasia.


Willi de Carvalho. FOTO: arquivo do artista

Willi começou no mundo da arte desde muito cedo. Autodidata, deu seus primeiros passos como artista no campo do desenho, tendo feito ainda vários trabalhos com a técnica de nanquim. Seu processo criativo no mundo da escultura começou no quintal de sua casa inventado o que brincar. Os palitos e grampos da mãe se transformavam em outros objetos, no lugar dos brinquedos, que não tinha. Isso o estimulou para a criação, de onde saíam teatrinhos de barro e miniaturas feitas de todos os objetos que o artista encontrava. Apesar de ter sido criado em uma família adventista, Willi desde a adolescência se sentiu atraído pelo mundo da criação popular que envolve a realização das festas católicas. Este fascínio pelas festas e rituais católicos lhe rendeu muitas reprimendas e a inimizade de algumas pessoas de sua família; menos sua mãe que foi sempre grande incentivadora de seu trabalho. Willi sempre gostou de livros e revistas de arte, os quais funcionavam como meios de estímulo e inspiração em seu processo criativo. Até hoje Willi tem na leitura das obras de autores como Guimarães Rosa e Ariano Suassuna, uma de suas maiores fontes de inspiração.

Willi de Carvalho, Homenagem a Ariano Suassuna. Reprodução fotográfica Galeria Pontes, São Paulo, SP

Entre os anos 1993 e 1996 Willi participou em sua cidade natal de um grupo de teatro chamado Fibra, dirigido por Terezinha Lígia. Foi o teatro um dos campos artísticos mais importantes em sua trajetória. O próprio trabalho de elaboração de miniaturas de pequenas cenas e situações, que começa anos mais tarde, surgiu também muito em função da prática e das técnicas que foi desenvolvendo no intuito de construir maquetes e cenários para as produções teatrais.

 Willi de Carvalho, título desconhecido. Reprodução fotográfica Galeria Pontes, São Paulo, SP

A primeira exposição individual do artista Willi de Carvalho aconteceu em Montes Claros em 1991; nela ele mostrou seus trabalhos em telas, pinturas e desenhos. Em 1993, participou de uma nova exposição de desenhos e pinturas na Casa de Cultura de Santo Amaro, em São Paulo. Em 1995, morando em João Pessoa, PB, teve a oportunidade de expor seus trabalhos na mostra “Aquarelas de igrejas de João Pessoa”. De volta a Montes Claros, trabalhou novamente com teatro e, por sobrevivência, desenhava também moda. Em 1997 conheceu o artista plástico curitibano Hélio Leites. Willi conta que esse encontro foi fundamental para sua obra e para sua vida de artista, marcando uma mudança de postura frente ao próprio trabalho: Ele é que foi meu mestre para criar um trabalho para mostrar, mesmo, artisticamente. Aí ele falou: 'Ô, Willi, por que você não faz um trabalho para você expor?', conta Willi. Antes de conhecer Hélio Leites, o artista mineiro produzia apenas esculturas muito pequenas, oratórios, presépios e cenas trabalhadas dentro de caixas de fósforo. Após o incentivo, começou a confeccionar peças mais elaboradas, utilizando a técnica das caixas de fósforo para criar e desenvolver os cenários e paisagens que faz hoje. A ampliação do tamanho das peças demandou mais tempo para a elaboração do conjunto de ornamentos que as compunha. A partir daquele encontro Willi começou a produzir suas miniaturas com a preocupação de lhes dar outra dimensão, procurando inseri-las não mais só na condição de ofício complementar às atividades teatrais ou como peças meramente decorativas, mas procurando o circuito de galerias, eventos e concursos, passando a valorizar, divulgar e projetar suas peças como objetos de arte. Ainda em 1998, com a miniatura Exaltação ao folclore de Montes Claros, recebeu o primeiro prêmio do Salão dos Catopés, durante as tradicionais festas folclóricas da cidade. A partir do contato com Hélio Leites, a confecção de miniaturas tornou-se seu carro-chefe, marca de sua individualidade como artista, sendo hoje seu grande diferencial no mercado de arte.

 Willi de Carvalho, Descobrimento. Reprodução fotográfica Galeria Brasiliana, São Paulo, SP

Papel, pano, arame, caixas de fósforos e de remédios, palitos de fósforo, de dentes e de madeira japonesa, miçangas, fitas, bijuterias, serragem e buchas são alguns dos elementos que dão vida as criações do mineiro Willi de Carvalho. Um dos aspectos que mais característicos de sua obra é a maneira como lida com as cores. Na maioria das peças utiliza tintas comerciais, porém, é comum também produzir suas próprias tintas pelo processo de adição de cola e água àquelas usadas para pintar paredes. Além da tinta de parede, usa também anilina para colorir miniaturas de vegetação, árvores, arbustos e gramas, que são feitas com pequenos pedaços de buchas. Depois de ter aprendido a técnica do biscuit, Willi passou a utilizá-la na confecção do revestimento dos animais e personagens, suas vestimentas, em adereços, utensílios e detalhes, bem como partes dos cenários, o que lhe proporcionou maiores produtividade e rapidez. Eventualmente utiliza também a técnica de papier machê em suas peças maiores, já que com essa é mais difícil obter apuro nos detalhes.

Willi de Carvalho, título desconhecido. FOTO: arquivo pessoal do artista.

Willi de Carvalho é hoje, sem dúvida, um dos mais minuciosos e sofisticados miniaturistas do Brasil. Atualmente ele vive só de seu ofício, o que inclui a venda direta de suas obras, os trabalhos realizados sob encomenda, as aulas, oficinas, a participação em diversos projetos, bem como a confecção de suvenires e brindes para instituições, cujas encomendas costumam ocorrer em períodos específicos, como as festas de final de ano, por exemplo. Durante sua trajetória participou de diversas exposições, dentre algumas se destacam:

- Casa de Cultura de Santo Amaro – Desenhos e Pinturas. São Paulo, SP, 1993
- Arte em miniatura – Montes Claros Shopping Center. Montes Claros, MG, 1999
- Salão Nacional de Artesanato Mãos de Minas. Belo Horizonte, MG, 1997, 2001 e 2005
- “Música em Miniatura – 80 Anos do Rádio no Brasil”. Espaço Ariano Suassuna, Rio Scenarium. Rio de Janeiro, RJ, 2002
- “Mini-série” – Shopping Nações Unidas. São Paulo, SP, 2003
- Carnaval em Miniatura – Minas Shopping. Belo Horizonte, MG, 2003
- Exposição de Arte Popular na Sandra e Marcio Objetos de Arte. Belo Horizonte, MG, 2007
- Mineiras Imagens – Galeria Pé de Boi. Rio de Janeiro, RJ, 2007
- Exposição em homenagem a Ariano Suassuna. João Pessoa, PB, 2007
- Willi de Carvalho na Livraria Cultura – São Paulo, 2008
- O Reino Encantado de Ariano Suassuna – Minas Shopping. Belo Horizonte, MG, 2008.
- Willi de Carvalho grandes miniaturas - Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Rio de Janeiro, RJ, 2009.

Willi de Carvalho, título desconhecido. FOTO: arquivo pessoal do artista.

Sobre sua obra e o seu estilo o artista define: De rótulos referentes à minha obra, como “neo barroco”, “contemporâneo” e “erudito”, prefiro “popular”, mas isso não me interessa tanto. Arte é arte, livre de rótulos e classificações, o que me encanta é o entusiasmo e a emoção que as pessoas expressam frente ao meu trabalho.

Fonte:
MACEDO, E.J. Willi de Carvalho: grandes miniaturas. Catálogo da exposição realizada no período de 7 de maio a 7 de junho de 2009. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Rio de Janeiro, RJ.

 Willi de Carvalho, título desconhecido. FOTO: arquivo pessoal do artista.

Willi de Carvalho, Dorival e as cantigas do mar. Reprodução fotográfica Galeria Brasiliana, São Paulo, SP

Willi de Carvalho, Enfermo na seca. Reprodução fotográfica Galeria Brasiliana, São Paulo, SP

Willi de Carvalho, título desconhecido. FOTO: arquivo pessoal do artista.

   Willi de Carvalho, título desconhecido. FOTO: arquivo pessoal do artista.

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